quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Celebridades internacionais tratam brasileiros como súditos


Que brasileiro é o rei da hospitalidade, o mundo todo sabe. Os primeiros foram os índios com os portugueses. Deixaram entrar e deu no que deu.
Após séculos de treino, atingimos mais um grau negativo na escala do capachismo. O nível de servidão com as celebridades estrangeiras que vieram ao Brasil na última semana poderia ser caso de segurança nacional.
Devemos ser uma nação com carência afetiva. Tudo bem que é legal receber na nossa casa gente como Beyoncé, Mariah Carey, Madonna e, hum, vá lá, Paris Hilton. Mas não precisamos nos humilhar. Serve um cafezinho com bolo de fubá que está de bom tamanho.
Não é à toa que a gringaiada sai daqui falando bem do país. Lotamos nossos estádios para assistir aos shows que muitos deles só fazem em fim de carreira. O povão canta em coro suas letras em inglês, espanhol, sânscrito, o que for preciso.
É uma clara inversão: a plateia que faz de tudo para agradar. Só pode ser complexo de inferioridade.
Mas o que vimos neste carnaval é o fim da picada. A Madonna veio aqui em novembro de 2009 e levou US$ 7 milhões do Eike Batista (que jamais doaria esse dinheiro para o Corpo de Bombeiros, por exemplo).
Madonna, Beyoncé e Paris Hilton
Madonna, Beyoncé e Paris Hilton

Até chorou de emoção, a coitadinha. Leia aqui. Aí voltou.
Com uma recepção dessas, até eu voltaria. Pois ela desembarcou, a convite, para curtir os camarotes hipervips do sambódromo. Ela e a patota dela. Foi tratada como rainha. E nos tratou como súditos, é claro.
Carregou seus seguranças para todo lado, foi cortejada pela elite política, invadiu a avenida durante um desfile, fez a muvuca que bem entendeu. Até beijou na boca um amigo do Jesus. Só pode ter sido o Judas.
A culpa não é dela. Nem da Paris Hilton, a patricinha milionária cujo único talento é trocar de namorados. Andou pra lá e pra cá, se esbaldou, foi bajulada, comeu e bebeu de graça. Por quê? Ainda não entendi.
Lembram daquela modelo fuinha que catou um monte de ricaços brasileiros? Isso, Naomi Campbell! Essa foi a pioneira em se divertir assim, às nossas custas. Ela deve ter contado para as amigas como funciona o esquema. Agora fazem fila para entrar aqui.  Ou melhor, furam a fila.
Creio que está na hora de mudar esses papéis. Querem vir para cá? Sejam muito bem-vindas, as celebridades internacionais e seus milhares de dólares. Vamos tratá-las de forma especial, é nosso jeito. Somos um povo gentil e educado.
Mas espera lá, né? Respeito é bom, todo mundo gosta.  Limpem os sapatos antes de entrar. Usem os capachos do lado de fora.

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