domingo, 4 de abril de 2010

Declaração de pregador do Vaticano não é bem recebida em Israel

JERUSALÉM, 3 ABR (ANSA) - A imprensa israelense relatou hoje, em tom crítico, as declarações do pregador da Casa Pontifícia, Raniero Cantalamessa, que comparou as denúncias de pedofilia contra a Igreja Católica com o antissemitismo.

A edição on-line do jornal Jerusalem Post afirmou que "os comentários do pregador do Papa irritaram grupos judaicos e as vítimas dos abusos sexuais na Igreja".

Já o periódico Yedioth Ahronoth noticiou o acontecimento com o título "Pregador do Papa compara as acusações de ocultação de abusos sexuais com a perseguição dos judeus". Uma inscrição parecida foi utilizada pelo Haaretz, que destacou que o "pregador vaticano comparou os ataques ao Papa com o antissemitismo".

Além das publicações on-line e impressas, muitos programas de rádio israelense dedicaram parte da programação às repercussões dos comentários de Cantalamessa, feitos ontem durante um sermão na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em ocasião da Sexta-Feira Santa.

Diante do papa Bento XVI, Cantalamessa afirmou que, "por uma rara coincidência, neste ano nossa Páscoa cai na mesma semana da Páscoa hebraica" e "isto nos leva a pensar nos irmãos judeus que sabem, por experiência, o que significa ser vítima da violência coletiva e que, por isto, sabem reconhecer os sintomas".

Nos Estados Unidos, a comunidade judaica e a católica também repudiaram os comentários. O responsável pela Conferência Episcopal norte-americana, James Massa, definiu as declarações como "inoportunas".

Em entrevista ao Washington Post, o religioso demonstrou preocupação em relação às consequências que estas palavras podem acarretar nas relações entre a Igreja Católica e os judeus.

"Espero que todos compreendam que o que foi dito por Cantalamessa é um julgamento singular de um padre e não reflete a opinião do Papa e da Igreja. Todavia, trata-se de uma comparação não só infeliz, mas inoportuna, que não deveria ter espaço em uma oração de Sexta-Feira Santa".

Já o rabino Marvin Haier, fundador do Centro Simon Wiesenthal de Los Angeles, pediu explicitamente uma intervenção do Pontífice.

"Trata-se de palavra injuriosas e expressas na presença do Papa. Bento XVI deveria assumir as suas responsabilidades e pedir desculpas por essa analogia vergonhosa", defendeu Haier.

Nos últimos meses, a Igreja Católica vem enfrentando uma série de denúncias de abuso sexual que teriam sido cometidas por religiosos em diversos países, como Estados Unidos, Alemanha, Irlanda, Canadá, Áustria, Holanda, Itália, entre outros. Em alguns casos, há acusações de omissão contra Bento XVI e outras autoridades.

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